quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Invenção da Paixão

A invenção da paixão é realmente uma história engraçada.
Tudo começou em mil setecentos e vinte três, na Itália, com um tal de Roberto Passione. Roberto Passione era morador de rua, pobre, sem muitos atributos e sem nenhum futuro. E foi assim, sem futuro, que Roberto Passione decidiu se jogar ao mar, acompanhado apenas de uma garrafa de rum, para conhecer o mundo. Todos que conheciam Roberto Passione disseram que aquilo era uma loucura. Disseram que ele estava totalmente errado, que ele poderia morrer, que ele poderia ficar sem uma perna, sem um olho, etc. Mas Roberto Passione não desistiu. Nem hesitou. Pois Roberto era um Passione, era o Roberto Passione.
E no dia vinte e dois de março de mil setecentos e trinta, depois de sete anos ao mar, Roberto Passione encontrou um lugar ao sol. Encontrou um ilha. Deserta, onde a vista cansava de tanta beleza natural. Roberto achou seu lugar. Enfim, um lugar digno para um pobre, para um morador de rua. Seria só felicidade em diante. Seria. Mas não foi.
Roberto Passione estava muito sozinho, sem nenhum amigo, sem nenhuma garrafada de rum (ou até mesmo de vinho), sem nenhum jogo de cartas, sem nenhum óleo de baleia para acender uma luminária. Sem nada para o pobre rapaz. Mas Roberto Passione tinha uma coisa que ninguém tinha: o Passione. Antes de mais nada, ele era um Roberto Passione. E Passione que se preze não se deixa abalar por nada! E Roberto não era diferente!
Roberto andou por todos os lados da ilha, por todas as cavernas, por todas as bananeiras, por todo o litoral, e, não achou ninguém. Mas ele não desistiu. Tentou se jogar ao mar novamente. Queria voltar para sua terra natal. Então Passione pegou seu barco, se entregou em alto mar e disse:
-"Volto aqui quando tiver minha amada."
Dito e feito. Depois de velejar por mais sete anos na imensidão azul, Roberto Passione chegou em sua terra natal. E assim quando chegou, foi correndo atrás de Dessiré Doman. Dessiré Doman era uma freira com quem Roberto Passione já tinha tido um caso. Era por isso, na verdade, que Dessiré Doman era freira. Depois que Dessiré se separou de Roberto, ela prometeu não conhecer nunca mais nenhum homem. Nunca mais durante toda a sua vida e, por isso, virou freira. Mas Dessiré não era nem um pouco feliz com a sua vida de vigário.
Roberto Passione não parou de correr. Saiu correndo e foi encontrar Dessiré que trabalhava no bosque cuidando das ovelhas. Assim que a viu, Roberto Passione começou a ficar gago, suar, tremer e tonto. Dessiré não acreditava. E não acreditou. Continua até hoje sem acreditar. Dessiré não conseguia imaginar que o "homem da sua vida" estava de volta há poucos metros de distância! Roberto Passine não acreditava que a "mulher da sua vida" estava lá, somente só, cuidando de ovelhas!
Roberto Passione se aproximou de Dessiré Doman, e com todo o respeito, disse:
-"Eu estava em uma ilha maravilhosa. Deserta, sem ninguém para atrapalhar. Sem precisar pagar impostos, sem precisar trabalhar, sem precisar pedir esmola! Tinha tudo lá, menos duas coisas. Rum e..."
Dessiré suspirou e disse:
-"E?"
Roberto olhou fundo em seus olhos e disse:
-"Você."
E foi daí, desse diálogo, que Roberto Passione inventou a paixão. Séculos depois, todos no mundo iriam usufruir dessa invenção criada por Roberto Passione. Invenção essa que duraria mais que o rádio, mais que o telefone, mais que o computador, mais até que a primeira invenção do mundo, o próprio mundo.
Hoje em dia, Roberto Passione é lembrado por muitos somente pelo apelido de sua invenção, "Paixão". E ele descansa em sua ilha deserta, ao lado de sua amada, Dessiré Doman. Pelo o que me parece, os dois são muito felizes. Um completa o outro. Tiveram um filho e o abençoaram de "Amor". Os dois pretendem criar um rede de hotéis na ilha, mas, ainda sim, estão mais preocupados com o futuro deles. Porém, naquela ilha só se escuta uma coisa:
-"Nosso Amor é fruto de nossa Paixão."
E é verdade.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

#Cartolafeelings

Bem. Ouço agora Cartola cantando "O Mundo é Um Moinho". Linda! Linda a letra, a melodia, os acordes! Lindo, tudo lindo, perfeito. E é nessa hora que eu lembro de uma pessoa muito especial. Bem, vou ser mais sucinto: estou apaixonado por uma mulher. E nada melhor do que fazer uma crônica tentando me explicar. Veja bem, eu escrevi "tentando".
Eu a conheci sem querer. E foi querendo que estou aqui, a esperando. É difícil hoje em dia nos tempos da internet, do fast food, do sertanejo pop universitário, nos tempos de hoje, falar sobre paixão. Paixão. Será que alguns adolescentes como eu ainda sentem esse sentimento? Será? Será que não está extinto? Não sei. Me sinto tão estranho.
Sim, me sinto vivo, de novo. Tudo novo de novo. Os mesmos caminhos, as mesmas pegadas na areia, as mesmas dúvidas, tudo isso, só que agora com uma pessoa especial, única e querida. Meloso, não? Também acho. Mas é assim que um homem apaixonado se sente. Bem, eu acho.
E agora? O que eu faço? Parece que estou sem chão, sem base, sem pra onde ir, sem ter aonde me esconder! Ah! Confuso, complexo demais! Me jogo nessa incerteza? Me travo nessa certeza? Me asseguro nas poucas opções? Aposto nas grandes probabilidades? Ah! E essas incertezas giram em minha cabeça enquanto Cartola diz:
-"O mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos. Vai reduzir as ilusões à pó."
Grande Cartola. Esse sim foi feliz. Torcedor do Fluminense, mangueirense e compositor de grandes clássicos da MPB. Nasceu pobre e morreu pobre. Mas não é o Cartola que está em jogo. Não. Sou eu e os meus sentimentos. Voltando ao assunto.
Ao assunto. Qual assunto? Voltando naquela primeira questão: será que alguns adolescentes (assim como eu) ainda se apaixonam? Será? Será que mesmo com toda essa modernidade, com essa ideologia barata, com tudo isso, será que as pessoas ainda se apaixonam?
Tenho medo de me sentir único. Por mais que o amor, a paixão e o romantismo me deixem assim, não quero ser mais um. Quero ser O amor, A paixão e O romantismo em pessoa. Quero transbordar meus sentimentos para a minha amada. Quero que ela veja tudo aquilo que eu sinto por ela. Nem que seja em uma crônica, mas que ela veja e se sinta importante. Quero que ela saiba a importância, o fundamento que ela tem em minha mente. Sim, quero que ela saiba. Nem que seja em uma crônica. Nem que seja a crônica mais simples que eu já tenha escrito na face da terra, mas que ela veja e dê importância. Pois mesmo que seja assim, a crônica mais simples do mundo, quero que ela saiba que foi ela quem aflorou isso em mim. O mais simples dos sentimentos, o amor. Substantivo simples. Amor. Pequeno na palavra, grande no sentimento. Assim dizia um amigo meu.
Bem. Toda essa baboseira só por ter ouvido "O Mundo é um Moinho" do grande Cartola. É... a paixão é algo que nos pega de jeito. Sem dó nem piedade, de jeito mesmo. Não quer nem saber. Pega e te coloca no eixo. E que "eixo", diga-se de passagem...