segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Era só um aperto de mão.

Poucos conseguiram, muitos tentaram, milhares sonham e eu tive o maior prazer de apertar a mão de Arnaldo Jabor.
Até hoje eu me pergunto como consegui. Será que foi sorte, conseqüência, destino ou algo parecido? Me lembro de todos os detalhes. Foi em um teste que ocorreu em uma casa na Rua Vinicius de Moraes, Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, numa tarde de sexta-feira do dia dezenove de março de dois mil e nove. Era um teste para o novo filme de Arnaldo Jabor. Fui como quem não quer nada. E não queria mesmo. Fui tão desacreditado que custei para chegar no local. E quando cheguei, me deparei com mais dois meninos. Quando me dei conta, percebi que a situação era outra.
Pela primeira vez na minha vida fui selecionado para uma semi-final. Estava concorrendo o papel de coadjuvante. A situação ficou tensa. Não era mais como os outros testes em que você concorre com milhares de garotos com o mesmo sonho que o seu. Eram apenas dois.
Mas mesmo assim não conseguia acreditar.
E fui até o fim. Cheguei, me apresentei aos outros dois atores que disputavam o papel e sentei no banco de espera, esperando.
Depois de alguns minutos, mandaram os três subirem para uma sala. E nós três subimos. Cada passo que eu dava pesava mais que o ar. Poético não? Mas é verdade. Não conseguia me conter. Minhas mãos suavam. Até que foi. Eu cheguei na sala. Cheguei e me deparei com uma figura preciosa, Arnaldo Jabor.
Não acreditava! Não acreditei! E continuo sem acreditar até hoje! Estava na minha frente um dos meus ídolos! Um dos maiores cronistas do Brasil.
Era muito para um pobre sonhador. Mas era verdade! Pura verdade! Ele estendeu o braço e apertou a mão de cada um. Limpei minha mão na calça paulatinamente, sem que ninguém percebesse. Ele esticou o braço, apertou minha mão e sorriu. Sorriu.
Apenas sorriu com a maior graça do mundo. Era só um aperto de mão. Para ele. Para mim, foi muito mais que qualquer outra coisa no mundo. Foi um enorme prazer conhecer uma pessoa como ele.
E era esse o teste! Uma conversa com o diretor. Uma conversa franca. O que nós fazíamos, quais eram os nossos trabalhos recentes, qual era nossa formação, tal parecia com uma entrevista de emprego. E assim foi indo, nós contávamos como e o que éramos e ele ouvia e comentava. Tudo em uma ordem sincronizada. Uma hora ou outra uma piada, e ele esboçava um sorriso.
E pronto. Acabou, ele nos agradeceu e pediu que esperássemos o resultado que sairia logo em breve. Fui liberado. Saí de lá com o coração apertado. E saí feliz da vida.
Eu não passei no teste, mas saí daquela casa na Rua Vinicius de Moraes, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, numa tarde de sexta-feira do dia dezenove de março de dois mil e nove, como a pessoa mais feliz do mundo.
Pois eu apertei a mão do Arnaldo Jabor.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sétima Arte

Quero encontrar o meu "amor de cinema". Aquele amor que muitos admiram e que poucos encontram. Amor de cinema.
Amor de cinema é aquele que o mocinho do filme batalha durante mais de noventa minutos sob todas as circunstâncias, todas as situações menos esperadas e sob todas as situações inesperadas só para encontrar a protagonista do filme.
Então ele, o mocinho, depois de passar por todos os sufocos, necessariamente em noventa minutos, chega ao esperado momento. Chega a hora do mocinho. O mocinho ficar cara à cara com a protagonista.
Linda a protagonista. Ela lá no seu canto, quieta, esperando o mocinho. O mocinho que às vezes chega sangrando, às vezes chega chorando, às vezes chega calado, mas chega. A protagonista linda esperando o mocinho sério, com aquele olhar profundo. O mocinho é na maioria das vezes aquele ator que qualquer tiete fica louca só de ouvir a voz.
O melhor, é que depois de noventa minutos o mocinho pode se deleitar com a protagonista durante os cinco minutos restantes. Daí, acaba o filme, sobem os créditos, entra uma música super melody e finaliza o trajeto do cinema. E depois, que se apagam as luzes, certamente, o mocinho e a protagonista do filme devem ficar nos beijos e amassos aproveitando a noite dentro daquela sala escura e gelada.
Igual, se não me engano, ao filme de Woody Allen, o "Rosa Púrpura do Cairo". Um verdadeiro amor de cinema. Encontrar um amor desses não é para qualquer um. E a vida, a vida é igual a sala do cinema. Escura e gelada. Depende de qual filme você vivência. Seja drama, comédia, romance, policial, suspense, ou até mesmo um remake de um grande clássico cinematográfico.
Mas o meu, o meu eu quero que seja de romance. Até então. Porém, nós, eu e o meu amor de cinema não saberemos o que nos aguardará até a próxima cena. Talvez seja por isso que aproveitaremos cada cena como se fosse a última. Aproveitaremos como se de uma hora, de uma hora para outra fizessem um corte, como se de uma hora para outra o rolo queimasse, como se de uma hora para outra acabasse por acabar. Só mesmo por um fim.
E é por isso que aproveitaremos, e aproveitaremos muito.
Aproveitaremos o nosso amor de cinema. Um amor que muitos admiram e que poucos possuem. Um amor de dar inveja.
E eu já vou prometer para ela, que quando acabar, irá ser o final feliz mais feliz de toda a história cinematográfica mundial. Irá ser o final mais feliz da sétima arte. Com certeza. E em um dia, quando os créditos subirem, nós poderemos nos contentar com o desfecho final. Mas quem sabe? Só saberá o roteirista, O Destino.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sanduíche Comunista

Foi certeiro. Recebi, na véspera do feriado, a visita inesperada do meu avô. Ele nunca viera nos visitar em nossa humilde residência, então, para não fazer feio, comprou no mercado da padaria uns sanduíches de esquentar no microondas. Até então nada demais.
Ficara eu assustado com uma visita dessas. Meu avô era comunista. Era. Infelizmente o coitado faleceu. Mas quando vivo, era sim, comunista de carteirinha. Ia nos palanques, gritava, caía na pauleira com os militares, formava grupo com os estudandes da UniRio e até participou da "Passeata dos Cem Mil". Até então nada demais.
Toca-se a campainha e eu corro para atender, crente que era minha namorada. Olho no olho-mágico e vejo um careca, com uma camisa social amarrotada, todo agitado.
Abri a porta e disse:
-Vô?
Ele esfregou os pés no tapete da entrada, deu um beijo na minha testa, deu um grito chamando os meus pais e colocou as embalagens dos sanduíches em cima da pia da cozinha. Pronto. Puxou um banquinho e ficou lá na cozinha esperando os meus pais. Mostrou as embalagens dos sanduíches e disse para eu comer um. Meus pais chegaram nesse momento e fizeram a mesma cara de espanto que eu fiz. Ele foi franco. Disse sem mais delongas. Abriu o jogo falando que estava sem dinheiro, que devia uma série de empréstimos bancários e que necessitava de ajuda. Me desloquei ao meu quarto e fiquei lá. Até hoje eu não faço a mínima idéia com que fins terminaram essas contas. Lembro do que o meu avô falou naquele dia antes de ir embora:
-"Não seja hipócrita. Não seja falso. Não seja flamenguista"
Lembro como se fosse ontem de ter ouvido essas frases. E nunca mais esqueci.
Hoje em dia, se não me agrada eu não indico para ninguém. Hoje, se tenho que dizer alguma coisa à alguém, digo na hora e ainda cumpro com os meus princípios. Hoje, se torço para alguém, torço para o Botafogo. Tudo graças ao meu avô.
E um dia depois daquela visita inesperada era dois de abril. Dia da Paixão de Cristo. Dia em que não se pode comer carne. E, para meu infortúnio, acordei com fome e me deparei com aqueles sanduíches em cima da pia da cozinha. Pensei. Raciocinei. Levei em conta que era dia da Paixão, dia sagrado, dia que se é lembrado o sacrifício de Jesus por nós. A carne de Jesus em respeito ao invés daquele sanduíche suculento de sabor calabresa.
Para não falar que caí na tentação, eu abri a geladeira para ver se tinha alguma opção vegetariana e que fosse prática. Não tinha. Olhei para um lado, olhei para o outro, e vi que ninguém paraiva a minha humilde residência. Era só eu e aquele sanduíche de calabresa. Pensei. Raciocinei. Peguei o sanduíche e coloquei no microondas. Até então nada demais.
Não fui hipócrita, pois o meu pensamento era claro. Eu penso de uma forma diferente. Todos os dias nós cometemos pecados. Está na Bíblia. Está lá escrito:
"Todo homem está disposto a pecar."
Sim, eu estava disposto. Não era só por um dia em que católicos fiéis ortodoxos lhe cupam de comer carne que eu ia deixar aquele sanduíche apodrecer na pia da cozinha. Se eu me lembro bem, também é pecado desperdiçar comida. E pecado por pecado, preferi comer. Seria hipocrisia minha me passar por "bom samaritano".
Não sou assim, e muito menos em um feriado. Que seja feriado católico ou até mesmo regional. Era feriado e eu estava com fome. Tão importa um dia em sua vida quanto uma porção deles. Então, para os vigários de plantão, eu me desliguei e me lixei. Comi. Comi aquele sanduíche. Cada pedaço como se fosse único (e era!).
Comer aquele sanduíche de calabresa me proporcionou um sabor até hoje incomparável. Nunca na minha vida o comunismo teve um sabor tão gostoso, com direito a ketchup e a cheddar. E comi outro. Eram quatro e no final só restou um. E deixei um de boa vontade. Mas depois, voltei a raciocinar e lembrei de comentar comigo mesmo. Jesus era meu amigo. Eu não precisava deixar me passar por um dia sem carne para provar minha fé Nele. Ele sabe que todo dia eu quito minha dívida divina.
Mas, raciocinando, aquela atitude atrevida foi por aquele comunista de terceira idade ter tido uma idéia de bernadice em fazer uma visita surpresa. Se aquele senhor comunista não tivesse trago aqueles sanduíches, nada de revolucionário passaria em minha cabeça. Aqueles pensamentos desvairados só ocorreram por motivos de um sanduíche. Aquele sanduíche comunista.
Desde daquele dia, a Páscoa nunca mais foi a mesma. Tudo culpa daquele velho comunista.
Que Deus o tenha.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Criaturas da Terra

Como nós sabemos, não estamos sozinhos no mundo. Não querendo especular sobre ovins, não no assunto de naves espaciais interplanetárias, não. É sobre o assunto de corpos, corpos da natureza. A água, a madeira, o fogo, as plantas, as árvores, os animais, as frutas, os vegetais e tudo que ela puder nos oferecer. É tudo nosso.
Podemos usufruir disso, pois é nosso. Só que, como nós sabemos, uma hora têm que repôr aquilo que gastamos. É assim que funciona uma horta. Um agricultor planta, recolhe, e depois, planta de novo. O agricultor têm a responsabilidade de cuidar de sua horta, igual a nós que temos a responsabilidade de cuidar da natureza, da nossa natureza. Há várias questões para serem resolvidas. São questões da própria natureza humana, pois a natureza em si, está se lixando para nós. A natureza quer ficar no espaço dela com a fauna e a flora dela, com os seus riachos e cachoeiras, não com os humanos que se aproveitam dela. Não.
A natureza se comprometeu a nos fornecer tudo o que necessitamos para viver. Em troca ela pediu respeito, carinho e bons modos. Nada pela nossa parte foi feita. Nós não a respeitamos, não lhe damos carinho e muito menos os bons modos que deviam ser mantidos.
Mas agora já é tarde e não adianta chorar sobre o leite derramado. Temos sim, que dar um jeito nessa bagunça (que hoje em dia já se perdeu o controle). Começando pela raiz, se quiser acabar com o podre. Depois evoluir. Tudo se trata do pensamento sobre a natureza. Se apelar pelo óbvio, dizer que sem a natureza não conseguiremos sobreviver nem mais por seis meses, talvez, as pessoas se assustem e tomem medidas imediatas. Mas isso é só se apelarmos. Nada que seja concreto.
Mas falar, escrever, fazer passeatas, nada disso adianta se não houver atitude no meio.
Depende de nós. Somente de nós.
Há uma coisa que existe dentro de nós, que nem mesmo nós sabemos o que é. É o instinto assassino. O homem nasceu com esse instinto assassino de devorar tudo que tiver na sua frente, acabar com o que for preciso, de se lixar para o que os outros pensam, de ser egoísta, de pensar só em si mesmo. Hoje, o mundo é o que é. O mundo é apenas um reflexo, um espelho mostrando o que é e como acontece a destruição geral, tudo devido pelas atitudes humanas irracionais.
Mas há salvação.
Depende de nós. Na verdade, depende de nós querermos a salvação. Pois se nem mesmo nós estamos querendo nos salvar, quem irá se sacrificar para ajudar a raça humana?
O Super-Homem?